sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Universidade e desenvolvimento local

Ao ler este artigo abaixo do eminente Professor Elie Ghanem, é possível entender melhor a LUTA DO POVO BRASILEIRO  morador da Zona Leste da Capital de São Paulo, que já vem discutindo inclusive com a Pró-Reitora de Extensão da UNIFESP Profa. Dra. Eleónora sobre os cursos que queremos na Unidade Leste da UNIFESP, estamos colocando na mesa de negociação 20 propostas de cursos, que foram levantados pela comunidade através de pesquisa popular na região, dando o exemplo da prática da Democracia Participativa, o caminho é difícil, mas a Zona Leste tem grandes lideres e certamente irá conseguir os resultados que almejamos. Deixo aqui uma forma para vocês ajudarem ligar para o Prefeito Kassab e pedir a presença dele na reunião do dia 26 de Fevereiro de 2011, Sábado, 9:00horas, no Salão da Igreja de São Francisco de Assis, Prefeitura Gabinete Fone 3113 8000, quantos mais ligarem melhor. A ZONA LESTE CONTA COM VOCÊ.

Universidade e desenvolvimento local.

     Elie Ghanem*
Universidade e a tradicão elitista
Uma das imagens mais comuns que se costuma fazer da universidade é a que a associa a um diploma em., um curso de nível superior. Pensa-se que esta seja uma forma de subir na vida para quem vem de famílias pobres, cujos pais têm pouca instrução e não são donos de alguma empresa. Acredita-se que, por meio da continuidade dos estudos, as pessoas terão ascensão social porque serão profissionais de prestígio e alta remuneração.
Este significado atribuído à universidade mistura uma longa tradição de elitismo e desigualdade com a grande difusão de anúncios comerciais de faculdades privadas. Dentro da tradição, somente as pessoas nascidas em famílias ricas poderiam ter profissões de alto prestígio, que exigiriam muito estudo, mas, nas quais exerceriam muito poder e se distinguiriam das demais, sendo chamadas de "doutores". Estas profissões sempre foram facilmente identificadas como as de advogado, médico e engenheiro.
Além do peso da tradição elitista, a opinião pública veio sendo condicionada por uma agressiva atuação da propaganda de empresas particulares de ensino superior. No rádio, na televisão, no metrô e nas ruas, há insistentes peças publicitárias vendendo a idéia de um futuro garantido para quem" faz uma faculdade", com fotos de     sorridentes estudantes trajados(as) para os rituais de formatura ou compenetrados(as), já com emprego certo, chefiando algum ambiente de trabalho ou parecendo realizar alguma tarefa técnica.

Nem todos os estabelecimentos de educação superior podem ser chamados de universidades. Alguns são institutos isolados, centros ou faculdades. Podem dedicar-se só ao ensino ou apenas à pesquisa. Uma universidade abrange variados estabelecimentos, também conhecidos como unidades universitárias. Uma uiversidade digna deste nome tem como traço distintivo dedicar-se à produção de conhecimento, seja filosófico ou tecnológico, artístico ou cientifico.

                Alem disto no Brasil o artigo 207 da Contituição obriga que as Universidades obedeçam ao principio da indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão. Quer dizer, o ensino, aquela função mais visível da educação superior (que fornece diplomas), é apenas uma parte que não pode se desligar da produção do conhecimento pela pesquisa e da extensão universitária. Por esta última função, menos incentivada e muito desconhecida, os saberes que a universidade reúne e produz deveriam ser compartilhados com as outras pessoas sem vínculos diretos com esta.
                                                 UNIVERSIDADE e Desenvolvimento local
Além de ser comum pensar que universidade é o mesmo que uma faculdade e que esta se resume a ensino e diploma, grande quantidade de jovens não chega à educação superior. Algumas das razões para isto são a distribuição desigual de vagas pelos municípios e estados, os exames de ingresso incompatíveis com o preparo dos(as) candidatos(as), a desinformação sobre os cursos e outras atividades universitárias, a escolaridade insuficiente de quem não concluiu o ensino fundamental e o médio e a impossibilidade de conciliar horários de trabalho e de estudo. Por estas razões também, apesar de existir muita concorrência por educação superior, as vagas oferecidas não são totalmente preenchidas.
Contudo, muitas das pessoas que disputam aquelas vagas o fazem menos pelo gosto por certos tipos de conhecimento e mais pela busca de vantagens na disputa do mercado de trabalho. Portanto, algumas das medidas mais urgentes para lidar com a oferta de educação superior não seriam diretamente escolares, seriam providências para assegurar renda e emprego. Se as pessoas que completam o nível médio de ensino tivessem como se manter e sustentar sua família, uma grande parte não disputaria vagas de educação superior com estas finalidades. Outras poderiam escolher ramos de estudo mais de acordo com suas inquietações intelectuais e contribuir com a produção de conhecimento nestes ramos, dedicando-se à pesquisa científica . Neste ponto está a principal chave para compreender a contribuição que a universidade pode dar ao desenvolvimento local. Claro que todos os locais precisam se desenvolver, mas, há alguns em que este desafio é maior, desde que se entenda que o desenvolvimento é o respeito aos direitos humanos, entre os quais o direito à vida, à liberdade, à segurança pessoal, à igualdade perante a lei e à sua proteção, a tomar parte do governo, ao acesso ao serviço público, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego, a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. Ver na universidade só função de ensino, desprezando a de pesquisa e a de extensão, é reduzir muito sua contribuição ao desenvolvimento. Inclusive porque o ensino tem sido principalmente voltado a ampliar o número de pessoas com diplomas de nível superior, o que leva à queda do valor dos diplomas. Como é preciso priorizar a busca de alternativas de organização da vida e da atuação do poder público para fazer respeitar os direitos humanos, a principal contribuição da universidade, para isto, é produzir (pesquisa) e compartilhar (extensão) seu conhecimento com as comunidades locais, aperfeiçoando a capacidade destas para tomarem decisões fundamentadas, com a sua ampla participação.

* Professor da Faculdade de Educação da USP e USP Leste.

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