domingo, 17 de julho de 2011

Conferência Ethos 2011 debaterá nova economia

O objetivo é dar o primeiro passo para a construção de uma agenda de transição que contemple os temas e as perspectivas do conjunto da sociedade brasileira. 
A Conferência Ethos deste ano, que será realizada entre os dias 7 e 9 de agosto de 2011, em São Paulo, está adotando um formato inovador desde o seu planejamento. Alinhado com os princípios da Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, iniciativa que lançou em fevereiro passado, em parceria com a Alcoa, a CPFL, a Natura, a Suzano, a Vale, o Walmart e a Roland Berger, o Instituto Ethos decidiu aproveitar sua conferência anual para promover os debates que levarão à produção conjunta da pauta central de uma agenda de transição para essa nova economia.
Nesta entrevista dada ao jornalista Celso Dobes Bacarji para o Notícias da Semana, o vice-presidente do Ethos, Paulo Itacarambi, conta como a Conferência vem sendo preparada, com a participação de 35 organizações representantes do conjunto da sociedade. “Queremos que a Conferência Ethos não só debata os principais temas da economia inclusiva, verde e responsável, mas também reflita a visão de cada um dos participantes”, explica ele.
Notícias da Semana: A próxima Conferência Ethos debaterá a nova economia. É um tema que está alinhado com a nova plataforma de atuação do Instituto Ethos, não é?
Paulo Itacarambi: Pois é. Trata-se da Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, que lançamos em fevereiro deste ano Uma das estratégias mais importantes para avançarmos nessa plataforma é elaborar uma agenda de transição da economia atual para a economia que se deseja. No documento, nós passamos a visão de que a economia brasileira tem condições de ser ao mesmo tempo includente, verde e responsável. Se ela tiver essas características, além de proporcionar uma sociedade melhor, com mais qualidade de vida, será mais competitiva. Se caminhar nessa direção, o Brasil poderá ser realmente a quinta economia do mundo. Isso dará valor econômico para a nossa riqueza natural e social. Mas para implementar essa visão é preciso construir uma agenda, que é o principal objetivo da Conferência Ethos 2011, envolvendo diversas organizações.
NS: É por essa razão que a convocação desta conferência propõe um debate quadripartite sobre o tema?
PI: É isso mesmo. Estamos aproveitando a conferência para iniciar o processo de discussão com diversas entidades para uma construção conjunta dessa agenda. Nós colocamos a Conferência Ethos a serviço dessa mobilização e convidamos 35 organizações para trabalhar conosco já nesta fase de planejamento, dando o primeiro passo, que é definir a pauta com os principais temas envolvidos na transição para uma nova economia. Além disso, temos de definir como é possível garantir a diversidade da abordagem, abrindo espaço para a perspectiva dos diversos públicos, empresários, trabalhadores, a sociedade civil e o poder público, para, na conferência, ter não só os principais temas da agenda como também as abordagens de cada ator, ou seja, uma visão quadripartite.
NS: Então as organizações convidadas já estão trabalhando nisso?
PI: Nós já fizemos quatro reuniões com as 35 organizações, com um nível riquíssimo de debates e sugestões. As pessoas estão trabalhando, dedicando seu tempo para essa contribuição. E contamos com entidades que refletem diversos pontos de vista: dos trabalhadores, da academia, de ONGs, de organizações ambientalistas e de entidades públicas. O processo está sendo bem produtivo e dele sairá uma proposta bastante densa, que vai resultar num debate muito profundo na conferência. Além dos temas e das abordagens, esse grupo vai sugerir também os nomes dos palestrantes, a composição das mesas e a dinâmica do debate, para garantir a diversidade de perspectivas. No final desse planejamento, nós vamos ter um caderno com subsídios para os debates na conferência, que será entregue para cada um dos participantes, inclusive para os palestrantes.
NS: Isso quer dizer que a conferência propriamente dita será inteiramente dedicada à formação de uma agenda para a transição a uma economia verde?
PI: Será um primeiro passo. Certamente não produziremos uma proposta de agenda oficial da conferência. Queremos sair de lá com os temas mais relevantes identificados, as questões mais importantes, os problemas e as propostas de cada um desses atores, necessários para a negociação da agenda. Depois da conferência, o debate vai continuar. Além disso, a Conferência Ethos tem o objetivo de acumular reflexões e propostas para a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que vai ocorrer no Rio de Janeiro, em 2012. Muitas dessas soluções devem ser endereçadas ao governo brasileiro, para a construção de um projeto nacional, mas outras tantas se remetem ao nível internacional e por isso serão encaminhadas na conferência do Rio.
NS: As vertentes do tema que serão debatidas na plenária de abertura já estão definidas?
PI: Sim. A idéia é discutir, na abertura, de maneira mais conceitual, o que se compreende como uma economia, includente, verde e responsável. Pelo menos três aspectos precisam ser debatidos. Primeiro, a relação entre crescimento e desenvolvimento. A pergunta é: para se desenvolver é necessário crescer sempre? Ou é possível ter crescimento reduzindo os impactos ambientais e a utilização de recursos naturais? Em segundo lugar, vamos discutir a questão da mudança de paradigmas. Por exemplo, precisamos discutir o paradigma da competição como condição para o crescimento. Num ambiente de sustentabilidade, nós precisamos é de cooperação. Logo, a cooperação é o novo paradigma para o desenvolvimento sustentável. Como fazer essa mudança? Outro paradigma do mercado é o estímulo ao consumo. O cidadão tem buscado o seu bem-estar por meio do consumo de bens e serviços. E isso mantém uma demanda forte sobre os recursos naturais. Então é preciso discutir esse paradigma com a sociedade. O terceiro aspecto dessa discussão diz respeito às métricas utilizadas para avaliar o desempenho da nossa economia. Como se mede o desenvolvimento da sociedade, da economia ou de um negócio? A nova economia exige uma nova contabilidade nacional e nas empresas. Então, a plenária de abertura vai discutir essas três dimensões: o conceito de crescimento, os paradigmas e as métricas na nova economia.
NS: Essa discussão sobre o conceito de crescimento é uma questão forte. Em sua opinião, isso vai criar uma polarização?
PI: Quando o país está em desenvolvimento e você tem um conjunto de pessoas na miséria, na pobreza absoluta, uma situação de grande desigualdade, é preciso atingir certo nível de desenvolvimento, uma determinada capacidade de produção para incorporar a todos. Então a discussão é sobre como conseguir esse crescimento com redução de impactos.
NS: E isso é possível?
PI: Entendo que é uma questão de inovação tecnológica, de desenvolvimento de novos negócios, novos processos produtivos.
NS: A questão da mudança de paradigmas também é antiga. Você acha que nós já começamos a mudar alguma coisa?
PI: A mudança de paradigmas ainda não aconteceu, mas a necessidade de mudar, de construir novas bases para a sociedade, já está colocada. As pessoas acreditam que isso é necessário, mas a construção desses novos paradigmas ainda está por vir. Nós ainda adotamos os paradigmas de uma sociedade industrial, do crescimento, da competição, do consumo de massa, embora existam vários movimentos que estão em busca de construir novos processos. Há iniciativas em todos os âmbitos, no poder público, na sociedade civil e no meio empresarial. O que falta é que essas iniciativas ganhem escala e centralidade na economia.
NS: Vocês já delinearam como serão os painéis, as discussões nos outros dias da conferência?
PI: Esse pano de fundo debatido na plenária de abertura será depois aprofundado em três sessões simultâneas, que tratarão de três pilares da nova economia: a governança, a inovação e os novos modos de produção e consumo. Tudo isso servirá de base para os painéis que virão a seguir. Serão 13 painéis sobre temas específicos, que incluem os principais aspectos que exigem mudanças, como a matriz energética, a questão dos resíduos, dos recursos naturais, a biodiversidade etc. Vamos avaliar o quanto avançamos, que oportunidades ainda temos para avançar e quais são os gargalos. Em paralelo, haverá discussões setoriais, que abordarão a nova economia na indústria, na agricultura, nos serviços e no setor financeiro. Esses painéis serão dirigidos aos CEOs, os presidentes das empresas. Eles também discutirão quais as mudanças necessárias dentro desses setores e o quanto já se avançou.
NS: Essa discussão sobre governança também é muito importante.
PI: A gente não vai caminhar na direção dessa nova economia sem um avanço nos processos participativos. Precisamos ampliar a democracia na gestão pública e na gestão privada. Aliás, gestão multistakeholder é isso: transformar a gestão das empresas num processo mais democrático e incorporar novas empresas nele. Na esfera do poder público, é preciso ampliar a democracia participativa. Ter uma governança que garanta maior participação da sociedade é a maneira de enriquecer o processo e caminhar mais rápido.
NS: Será então uma conferência bem inovadora?
PI: Certamente. E o mais importante é que esse processo que começou agora, com o planejamento, vai desenvolver-se durante a conferência e depois continuará, num diálogo permanente com as entidades parceiras, e incorporando novas organizações, como forma de construir essa agenda de transição.
NS: E quais são as expectativas?
PI: Bom, nós temos alguns desafios muito grandes pela frente, entre os quais fazer essas sessões paralelas com os CEOs. Para garantir a presença deles, teremos de trazer palestrantes reconhecidos, com capacidade de fazer a análise setorial que estamos propondo e despertar o interesse dos executivos em ouvi-los e debater com eles. Quanto aos temas, será necessário aprofundar a discussão que já vem sendo feita com grande riqueza na sociedade. Devemos contribuir para aumentar essa riqueza sem repetir os debates que estão aí, para avançarmos na agenda que será levada à Rio +20.
Por Celso Dobes Bacarji, para o Instituto Ethos

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