segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Marketing inteligente põe 25 de dezembro no calendário O Natal só foi adicionado ao calendário cristão no quarto século. Não se sabe a data real do nascimento de Jesus. Por John Steele Gordon

Neste Natal se você celebra a chegada do Papai Noel, o nascimento de Jesus Cristo ou a chance de comer comida chinesa e ver qualquer filme que quiser, pare para pensar no papa Liberius. Ele é o homem responsável por marcar a data para 25 de dezembro.
Já parou para pensar porque alguns feriados cristãos, como a Páscoa, Quarta-Feira de Cinzas e Corpus Christi são “festas móveis”, mudando pelo calendário de ano a ano, enquanto que outras como o Natal e Dia de Reis, não?
A razão é que as festas móveis são bem mais antigas, celebradas desde os anos mais antigos da Igreja. Elas foram baseadas no calendário lunar hebreu. O Pessach (Páscoa judaica) é celebrado no dia da primeira lua cheia da primavera (no hemisfério norte), e a última ceia foi na verdade uma ceia de páscoa judaica. Então os primeiros cristãos celebram a Sexta-feira da Paixão (um dia depois da crucificação) e a Páscoa (a ressurreição) logo após o Pessach. (Em 325 A.D., Páscoa foi fixada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia da primavera— no hemisfério norte)
O Natal só foi adicionado ao calendário cristão no quarto século, e francamente, foi adicionado como uma jogada de marketing. Não se sabe a data real do nascimento de Jesus, mas São Lucas (um dos dois autores de evangelhos que mencionam o nascimento) notou que no momento os “pastores estavam trabalhando no campo e observavam seus rebanhos durante a noite”. Isso implica uma data na primavera ou no verão, quando gado estava no alto das montanhas, não no inverno quando os animais eram mantidos em currais.
O papel da Saturnália
Então porque o papa Liberius decidiu em 354 celebrar o Natal no dia 25 de dezembro? Não dá para ter certeza. Mas sabemos duas coisas: primeiro, quando Liberius assumiu a igreja estava enfrentando uma heresia chamada arianismo, que ensinava que Jesus Cristo não era de fato divino, mas um ser criado. Segundo, 25 de dezembro caía bem no final da Saturnália, o antigo festival romano do solstício, celebrado de 17 a 24 de dezembro. No quarto século, após o imperador Constantino (que governou de 306 a 337) se converter ao cristianismo, a nova religião se espalhou rapidamente. Mas a festividade pagã Saturnália era muito popular. Era um mercado com doação de presentes, decoração de casas com sempre-vivas (soa familiar?), muita bebida e sexo.
Ao marcar a data do Natal para 25 de dezembro, o papa Liberius estava não apenas afirmando o nascimento divino de Cristo contra os hereges, mas também dizendo aos futuros cristãos que na verdade “você pode se converter ao cristianismo e ainda assim aproveitar a Saturnália”.
O Natal medieval, como seu antecessor pagão, era algo barulhento e bêbado. Muitas dioceses tinham uma “festa de tolos”, na qual alguém do baixo clero era temporariamente instalado como “bispo dos tolos” e diversão era transformada em um cerimonial da igreja. Na França, igrejas promoviam uma “fête de l’âne” em honra ao burro que trouxe Maria a Belém. Do lado de fora da igreja havia uma festa comunitária com bebida e, é seguro afirmar, sexo.
Mas com a Reforma, as coisas mudaram. Muitas seitas protestantes aboliram o Natal como uma corrupção medieval. Foi banido na Escócia em 1563 e da Inglaterra quando os puritanos derrotaram e executaram Charles I. A Nova Inglaterra puritana também não celebrava o Natal. Apesar de o feriado ter sido ressuscitado após a Restauração, nunca mais recuperou sua forma medieval. Ao invés disso, se tornou uma ocasião bastante voltada para a família.
Mito moderno
No início do século XIX, um grupo de escritores de Nova York, incluindo John Pintard, Washington Irving e especialmente Clement Clarke Moore, estabeleceram o moderno mito do Natal secular americano centrado em crianças, com papai Noel carregando presentes em seu trenó movido a renas e descendo por chaminés para entregá-los.
A poinsétia, ou bico-de-papagaio, que se tornou associada ao Natal porque floresce em dezembro, era desconhecida até o Ministro americano para o México, Joel Roberts Poinsett, a trouxe de volta em 1828. No meio do século XIX, o cartunista Thomas Nast criou a imagem moderna do papai Noel, um velhinho de gordo e alegre de barba branca (a roupa vermelha só virou padrão na década de 20, graças aos anúncios da Coca-Cola). Árvores de Natal chegaram ao mundo anglófono mais ou menos na mesma época, quando o príncipe alemão Albert — cujos ancestrais eram sem dúvida adoradores de árvores pagãos — casou-se com a Rainha Vitória.
Mercadores, é desnecessário dizer, empurraram a ideia da troca de presentes, decorando suas lojas e fazendo promoções. Quando seitas cristãs que celebravam o Natal, como católicos e anglicanos, começaram a se mudar para Nova Inglaterra, onde o Natal era desconhecido nos tempos coloniais, o feriado foi aos poucos revivido. Pressão de crianças (“nossos amigos estão recebendo presentes. Por que nós não?”) com certeza ajudou. Igrejas que não celebravam o Natal como a Presbiteriana e a Congregacionalista, começaram a fazê-lo. Novamente, foi uma jogada de marketing, para impedir que fiéis mudassem de igreja.
O poeta Henry Wadsworth Longfellow notou em 1856, “um estágio de transição sobre o Natal aqui na Nova Inglaterra. O velho sentimento puritano impede que seja um feriado alegre e caloroso, apesar de que a cada ano se aproxime mais disso”. Mais e mais estados, incluindo Nova Inglaterra, fizeram do Natal uma festa oficial e, em 1870, o presidente Ulysses S. Grant assinou a lei que tornou o feriado nacional.
Hoje esse Natal secular é celebrado ao redor do mundo mesmo em países como o Japão e a Coreia do Sul, onde apenas uma pequena porcentagem da população é cristã. Uma das músicas de Natal mais popular, “White Christmas” foi escrita por Irving Berlin, que era judeu.
O Natal da virgem Maria e a manjedoura, os três reis magos e “Noite Feliz” é um dia sagrado celebrando o nascimento de Jesus. O Natal do papai Noel, árvores de Natal, presentes, festas e “Rodolfo, a rena do nariz vermelho” é um festival de solstício de inverno celebrando o renascimento do Sol.
(John Steele Gordon é autor de vários livros, incluindo “Hamilton’s Blessing: The Extraordinary Life and Times of Our National Debt”)

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