terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Exposição sobre Fernando Pessoa no Museu da Língua Portuguesa

Exposição Fernando Pessoa, plural como o universo
Até 20 de fevereiro
Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº, Centro
Tel.: (11) 3326-0775
www.museudalinguaportuguesa.org.br
Ingresso: R$ 6,00 (pagamento somente em dinheiro).
O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 18h. A bilheteria fica aberta de terça a domingo, das 10h às 17h. Nas últimas terças-feiras de cada mês, o museu permanece aberto até 22h (a bilheteria fecha sempre uma hora antes).
Estudantes com carteira de estudante do ano e documento de identidade pagam meia-
entrada. Crianças com até 10 anos e idosos a partir de 60 anos não pagam ingresso,
bem como professores da rede pública
Fernando Pessoa
Exposição sobre Fernando Pessoa no Museu da Língua Portuguesa

Exposição mostra a multiplicidade da obra do poeta que foi capaz de se reinventar por meio de seus heterônimos

Em Fernando Pessoa, plural como o universo, o público tem a oportunidade de conhecer, ou reconhecer, algumas das personas do poeta português, que se revelam nos versos assinados por seus heterônimos – personagens-poetas com identidade própria – e por Pessoa, “Ele-mesmo”, e a observar a interação entres esses e outros vários personagens literários criados, simultaneamente, ao longo de seus 47 anos de vida. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith e projeto cenográfico assinado por Helio Eichbauer, a exposição mostra toda a multiplicidade da obra de Pessoa e pretende conduzir o visitante a uma viagem sensorial pelo universo do poeta, fazendo-o ler, ver, sentir e ouvir a materialidade de suas palavras.

Essa é a primeira vez que o Museu da Língua Portuguesa abriga uma exposição sobre um autor português. Depois de homenagear grandes nomes da literatura brasileira, como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Machado de Assis, o Museu apresenta a vida-obra ou obra-vida do poeta, autor do verso “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”, por meio de textos, imagens e vídeos. O visitante tem a chance de ver algumas raridades, como a primeira edição do livro Mensagem, único publicado por ele em vida, e os dois números da revista Orpheu, um marco do modernismo em Portugal.

Para Carlos Felipe Moisés, um dos curadores, não é necessário conhecer previamente a obra do poeta para visitar a exposição. “Nosso propósito básico é levar Fernando Pessoa à vida do cidadão que não o conhece, e que, portanto, encontrará uma linguagem acessível, e àqueles que já estão familiarizados com seus versos, que terão a chance de descobrir aspectos e conceitos novos”. Moisés acredita que basta conviver com a obra de Pessoa para entendê-la. E afirma que isso deve ser feito em etapas para melhor assimilá-la. “Nossa intenção é provocar o público, fazer com que as pessoas fiquem intrigadas, inquietas e voltem para perceber a exposição de outras formas”. Segundo o também curador Richard Zenith, “a ideia é que essa relação também se estenda para fora dos domínios do Museu e seja atraente para os mais diferentes públicos”. Zenith espera que o visitante saia de lá disposto a ler e pesquisar sobre Pessoa.

Durante o percurso da exposição Fernando Pessoa, plural como o universo, o visitante entrará em contato com os versos de Alberto Caeiro, o “poeta da natureza”; Ricardo Reis, médico e discípulo de Caeiro; Álvaro de Campos, um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa; Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego e considerado pelo próprio Pessoa um semi-heterônimo porque, como seu próprio criador explica, "não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade’; e de Pessoa, “Ele-mesmo”, considerado pelo próprio um ortônimo, em tom de ironia. Estarão expostos também poemas de heterônimos menos conhecidos e de algumas de suas personalidades literárias, como o Barão de Teive, o prosador suicida.

A exposição Fernando Pessoa, plural como o universo ficará em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2011 e é uma realização da Fundação Roberto Marinho e do governo do Estado de São Paulo através do Museu da Língua Portuguesa (administrado pela Organização Social de Cultura Poiesis), com patrocínio da Rede Globo, do Itaú, do Banco Caixa Geral - Brasil e da Fundação Calouste Gulbenkian e apoio do Consulado Geral de Portugal, em São Paulo, da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, do Centro Cultural dos Correios, do Rio de Janeiro, e do Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O percurso da exposição

Com projeto assinado pelo cenógrafo Hélio Eichbauer, a exposição terá como identidade visual o Mar – de Sagres e todos os outros – e os diferentes tons de azul da água e do céu, remetendo à época dos descobrimentos e das grandes conquistas de Portugal, inspirada no livro Mensagem. De acordo com Eichbauer, “a ideia é sugerir viagens mentais e espirituais, em torno das ruas de Lisboa, das aventuras dos heterônimos e de Pessoa”. O cenógrafo afirma que foi um grande desafio pensar numa exposição para ser lida, porém, acredita que conseguiu, junto com os curadores, criar um espaço para quem gosta de ler, capaz de celebrar a palavra escrita, falada, ouvida.

No primeiro ambiente da sala de exposições temporárias do Museu, o visitante poderá entrar em seis cabines que envolvem, cada uma, poemas do próprio Fernando Pessoa e dos heterônimos Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos e Bernardo Soares. A sexta cabine, chamada de “Eu sou muitos”, será dedicada a outras personalidades literárias criadas pelo poeta. Dentro de cada cabine, versos, palavras e poesias serão projetadas. Nesse mesmo ambiente, ao fundo, ficará exposta uma imagem de Pessoa reproduzida pelo artista plástico português Almada Negreiros.

Em seguida, o visitante entrará numa espécie de labirinto poético que mostrará poesias e fotografias de Fernando Pessoa, assim como os desenhos feitos com bico-de-pena por Almada Negreiros, retratando as várias personas do poeta. E entrará em um ambiente onde vitrines com documentos fac-símile ampliados, manuscritos ou datilografados, estarão expostos.

Nesse mesmo local, estarão expostas, em cima de uma grande mesa, algumas relíquias como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta, e a segunda; um manifesto sobre estudantes, datado de 1922, no auge do Modernismo brasileiro; o primeiro e segundo exemplar da revista Orpheu; três exemplares da revista Athena; seis exemplares da Revista do Comércio e da Contabilidade; a série completa de A Revista, de 1931; algumas edições da revista Águia, onde publicou seus primeiros artigos, e da revista Presença, sucessora da Orpheu.

Dentro da concepção de Helio Eichbauer, também inspirada no lado místico de Pessoa, haverá um pêndulo, atrás da mesa, que representará o Tempo e flutuará tendo ao fundo imagens do Zodíaco e do pintor português Nuno Gonçalves, que retratam personagens da sociedade portuguesa do século XV, representantes do clero, da nobreza e do povo. Ao lado dele, serão projetados textos do poeta em dois tanques de areia.

Ao fundo, em uma das paredes, será projetado um vídeo, produzido pelo documentarista Carlos Nader, com roteiro do poeta Antônio Cícero, que mostra pessoas recitando Pessoa. Do outro lado, será projetado um vídeo do mar, eleito uma das identidades da exposição, sempre em movimento, assim como o autor que pretendeu “Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma”.

No último espaço da exposição, o visitante poderá acompanhar a vida-obra do poeta em ordem cronológica, por meio da fotobiografia recém-lançada por Richard Zenith, um dos curadores. Algumas janelas deste corredor, com vista para o Jardim da Luz, ficarão livres e outras terão uma cortina feita de tecido semi-transparente, no qual será impresso o painel pintado por Carlos Botelho, com a vista de Lisboa. O objetivo é criar um diálogo entre a vida das duas metrópoles, mostrando como a paisagem de São Paulo contracena com a da capital portuguesa.

Os curadores

Carlos Felipe Moisés (São Paulo, SP, 1942) é formado em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo, onde ensinou literatura portuguesa, por muitos anos. Ensinou também teoria literária na Faculdade de Filosofia de São José do Rio Preto (SP), literatura brasileira na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e literaturas de língua portuguesa na Universidade da Califórnia (Berkeley) e na Universidade do Novo México (Albuquerque), EUA. Poeta, participa de várias antologias, no Brasil, em Portugal, na França e nos Estados Unidos, e entre seus livros de poemas destacam-se: Carta de marear (Prêmio Governador do Estado de São Paulo, 1966) Poemas reunidos (1974), Círculo imperfeito (Prêmio Gregório de Mattos e Guerra, Bahia, 1978), Subsolo (Prêmio APCA, Associação Paulista dos Críticos de Arte de São Paulo, 1989) e Noite nula (2008). Como crítico literário, colabora regularmente em periódicos especializados e na grande imprensa, no Brasil e em Portugal, desde os anos 70, com artigos e ensaios dedicados principalmente à poesia moderna e contemporânea. É responsável pela organização de edições comentadas de poetas como Cesário Verde, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto e vários outros. Entre seus livros de crítica literária destacam-se: Poética da rebeldia – a trajetória militante de José Gomes Ferreira (Lisboa, Moraes, 1983), Literatura, para quê? (Florianópolis, Letras Contemporâneas, 1996), O desconcerto do mundo – do renascimento ao surrealismo (São Paulo, Escrituras, 2001) e Poesia & utopia – sobre a função social da poesia e do poeta (São Paulo, Escrituras, 2007). É autor também de cinco livros dedicados a Fernando Pessoa: O poema e as máscaras – microestrutura e macroestrutura na poesia de Fernando Pessoa (Coimbra, Almedina, 1981; 2ª ed. Florianópolis, Letras Contemporâneas, 1999), Mensagem – roteiro de leitura (São Paulo, Ática, 1996), Poemas de Álvaro de Campos – roteiro de leitura (São Paulo, Ática, 1998), Fernando Pessoa – almoxarifado de mitos (São Paulo, Escrituras, 2005) e Conversa com Fernando Pessoa – antologia e entrevista (São Paulo, Ática, 2007). Este último, mescla de ficção e crítica literária, dirigida ao leitor jovem, recebeu o Prêmio Henriqueta Lisboa, Melhor Livro de Ficção Juvenil, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 2008. Tradutor, verteu para o português Que é a literatura?, de Jean-Paul Sartre, Tudo o que é sólido desmancha no ar, de Marshall Berman, O poder do mito, de Joseph Campbell, A última palavra, de Thomas Nagel, entre outros.

Richard Zenith (Washington DC, 1956) é formado em Letras pela Universidade de Virgínia e está radicado desde 1987 em Lisboa, onde trabalha em regime de freelancer como escritor, tradutor, investigador e ensaísta. Colabora em revistas e na secção portuguesa de www.poetryinternational.org e é conferencista sobre Fernando Pessoa, tradução literária e outros temas. Suas publicações de obras originais incluem poesias publicadas em várias revistas americanas, um livro de contos, Terceiras Pessoas (2003), e Fotobiografias – Século XX: Fernando Pessoa (2008). É ainda autor de numerosos ensaios, prefácios e artigos sobre Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Antônio Lobo Antunes e teoria e prática de tradução. Investigador no espólio de Fernando Pessoa, Zenith editou diversas obras deste autor, tendo a maioria sido co-editada no Brasil e traduzida em várias línguas: Livro do Desassossego (1998; 7.ª ed. 2007); A Educação do Estóico – o único manuscrito do Barão de Teive (1999); Heróstrato e a Busca da Imortalidade (2000) Poesia de Alberto Caeiro (eds. Fernando Cabral Martins e R. Zenith, 2001), Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal (2003); Aforismos e Afins (2003); Mensagem (2006); Obra Essencial de Fernando Pessoa (7 vols., 2006-2007). Como tradutor literário de português para inglês, tem-se dedicado especialmente à poesia, desde as cantigas medievais e a lírica de Camões até Pessoa (1999, 2006, 2008), Sophia de Mello Breyner (1997) e poetas vivos. Também traduziu três obras em prosa de Pessoa (2001, 2001, 2005), quatro romances de Antônio Lobo Antunes (1991, 1993, 2000, 2003), outro de José Luandino Vieira (1991) e uma coletânea de ensaios de Antero de Quental (1998). Pelo seu trabalho neste campo obteve alguns prêmios: o PEN Award for Poetry in Translation em 1999 (para Fernando Pessoa & Co. – Selected Poems), o Calouste Gulbenkian Translation Prize em 2002 (para The Book of Disquiet) e o Translation Prize da Academy of American Poets em 2006 (para Education by Stone: Selected Poems of João Cabral de Melo Neto).

O cenógrafo

Helio Eichbauer (Rio de Janeiro, 1941) é um dos principais renovadores da cenografia brasileira moderna; transita por várias gerações de artistas, colaborando com ideias arrojadas para muitas encenações importantes da produção nacional.
De 1963 a 1966 estuda Cenografia e Arquitetura Cênica em Praga, na Tchecoslováquia, atual República Tcheca, sob orientação de Josef Svoboda, considerado um dos maiores cenógrafos do século XX. Estagia, em meados dos anos 1960, no Berliner Ensemble e na Ópera de Berlim, na antiga Alemanha Oriental, e na França e na Itália. Em 1967, trabalha no Teatro Studio de Havana, com o célebre ator e diretor Vicente Revuelta, em Cuba.
De volta para o Brasil, trabalha em óperas, balés, teatro de prosa e concertos de música popular brasileira. Desenha a cenografia e indumentária de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, na montagem histórica do Teatro Oficina, em 1967, obtendo os prêmios Governador do Estado de São Paulo e Associação Paulista de Críticos Teatrais, APCT. Também em 1967 é premiado com o Molière pelo cenário de Verão, de Roman Weingarten, sob a direção de Martim Gonçalves, com quem trabalha de novo em Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, na Venezuela, em 1969.

No Grupo Opinião, assina o cenário de Antígona, de Sófocles, pelo qual recebe o Prêmio Molière de 1969. No mesmo ano, recebe a medalha de ouro na 10ª Bienal Internacional de São Paulo pelo conjunto da obra, e, em 1971, a Medalha de Ouro na 2ª Quadrienal de Praga. Três anos depois, destaca-se novamente por A viagem, adaptação de Carlos Queiroz Telles para Os Lusíadas, de Luís de Camões, direção de Celso Nunes, Prêmio Molière de cenografia de 1972. Repete o feito em 1981, pelo cenário de O Percevejo, de Vladimir Maiakóvski, direção de Luis Antônio Martinez Corrêa, assim como seu trabalho em Grande e Pequeno, de Botho Straus, em 1985. Ao completar 40 anos de profissão, em 2006, tinha mais de 160 trabalhos realizados em teatro e cinema, com 28 prêmios nacionais e internacionais, tendo participado de 15 exposições e 11 conferências, e sido professor em oito instituições de ensino livre e universitário (artes plásticas e teatro).

Mantém uma parceria, como cenógrafo, com o cantor e compositor Caetano Veloso. O show Cê marca seu décimo trabalho com o artista. Recentemente, cenografou para Chico Buarque o show Carioca; concebeu a montagem da exposição Vieira da Silva no Brasil, para o MAM-SP; cenografou para o programa Fantástico – TV Globo a série O Valor do Amanhã, de Eduardo Giannetti e Isa Grinspum Ferraz. Em teatro de prosa, fizeram muito sucesso na temporada de 2007 os espetáculos Um boêmio no céu, de Catullo da Paixão Cearense, com direção de Amir Haddad, O baile, de Jean-Claude Penchenat, direção de José Possi Neto, Um dia, no verão, de Jon Fosse, direção de Monique Gardenberg, e Farsa, quatro comédias clássicas dirigidas por Luis Arthur Nunes.

No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cenografou nos últimos anos as óperas A Flauta Mágica, de Mozart, e Macbeth, de Verdi, além do balé A Bela Adormecida, de Tchaikovsky.

Em 2006, realizou uma exposição retrospectiva dos seus 40 anos de Cenografia no Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro, e recebeu o Prêmio Eletrobrás de Teatro pelo conjunto de sua obra.

Exposição Fernando Pessoa, plural como o universo
Até 20 de fevereiro
Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº, Centro
Tel.: (11) 3326-0775
www.museudalinguaportuguesa.org.br
Ingresso: R$ 6,00 (pagamento somente em dinheiro).
O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 18h. A bilheteria fica aberta de terça a domingo, das 10h às 17h. Nas últimas terças-feiras de cada mês, o museu permanece aberto até 22h (a bilheteria fecha sempre uma hora antes).
Estudantes com carteira de estudante do ano e documento de identidade pagam meia-
entrada. Crianças com até 10 anos e idosos a partir de 60 anos não pagam ingresso,
bem como professores da rede pública

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