Um edifício de mais de 30 andares, divididos em dois blocos, abandonado no Centro de São Paulo é sintomático. Segundo o IBGE, a cidade possui cerca de 250 mil imóveis na mesma condição de abandono. Em contraposição, São Paulo também possui o maior movimento de luta por moradia urbana do país. O Governo, enquanto administrador público, traçou um plano de revitalização do centro que ignora o Direito à Cidade (artigo 2º da Lei Federal 10.257/01) quando constrói moradias populares em áreas periféricas, longe dos serviços e infra-estrutura, lazer, cultura, trabalho e transporte e não atende devidamente famílias de baixa renda em programas habitacionais. A compilação destas informações explica a maior ocupação vertical da América Latina no centro da cidade de São Paulo
O Prestes Maia abriga hoje, cerca de 300 famílias filiadas ao MSTC – Movimento Sem Teto do Centro. Desde a chegada dessas pessoas, em 3 de outubro de 2010, há um trabalho constante de recuperação do espaço através da organização de mutirões para a retirada de entulhos do interior do prédio, recuperação do subsolo que se encontrava alagado por água decorrente de infiltrações e esgoto, instalações elétricas clandestinas e captação de água da rua.
Em 2007, 468 famílias que ocupavam o Prestes foram despejadas por ordem judicial e encaminhadas para moradias populares prometidas pela prefeitura ou receberam cartas de crédito. Em nota, o prédio deveria ser desapropriado pela prefeitura e destinado a algum fim social. Já nesta época o edifício encontrava-se em situação completamente irregular. Os proprietários que moveram e ganharam a ação de reintegração de posse deviam cerca de 5 milhões de reais em impostos de propriedade e não tinham a escritura do local. Hoje, este valor chega a 6 milhões de reais e, até a atual ocupação, o prédio continuava sem função social.
Centro de cultura, educação e saúde na Ocupação Prestes Maia
Frente à luta por moradia, a Comboio discute e busca praticar uma ação efetiva de ocupação dos espaços. Para tanto, no dia 19 de dezembro de 2010, promoveu a inauguração de um Centro no 12º andar que tem como projeto garantir o acesso à cultura, educação e saúde aos moradores da ocupação e entorno.
Este projeto conta com o desenvolvimento de oficinas de formação na área de cultura e educação e criação de ofícios que gerem renda própria, bem como um trabalho com a saúde visando à prevenção de doenças e boa alimentação. A idealização deste projeto pelo grupo Comboio pretende tratar a educação como base para todas as outras áreas (cultura, lazer, saúde, arte) e por em discussão a separação cartesiana do conhecimento tal qual é tratado hoje. Ocupar a cidade e seus espaços, proporcionar a criação de ambientes que desenvolvam as potencialidades das crianças, preconizar a autoformação, valorizar o que as pessoas sabem como ponto de partida e, principalmente, desenvolver a autonomia são alguns pontos propostos para trabalho. Aliás, a transmissão de conhecimento deve ter sempre em vista a emancipação das pessoas e não o contrário, cumprindo com o objetivo de não se tornar mais um programa assistencialista dentro da ocupação, mas algo que tenha sustentação própria.
Início das oficinas: 10 de janeiro
Programação atual: Teatro, mediação de leitura, plantação de horta, confecção de brinquedos utilizando materiais recicláveis.
Veja abaixo as fotos de algumas das oficinas já realizadas
texto, vídeos e imagem: Comboio Universo Cidade Livre
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